Não poderíamos aqui nesta série de artigos deixarmos de mencionar, mesmo que de forma catalográfica, os personagens do mundo agropastoril do oeste Goiano durante a segunda metade do século XIX. Homens, e não raro, mulheres, que fizeram o desbravamento e colonização de Terras secularmente habitadas e dominadas pelos indígenas kayapó.
Vamos, no entanto, tentar nos distanciar da historiografia memorialista, que é carregada de impressões e expressões pessoais de indivíduos e grupos específicos da sociedade. Estaremos entretanto, abordando de forma catalográfica indivíduos citados pelos jornais de época como “notáveis”, “proeminentes”, “grandes”, “importantes”, etc.
Para nossa pesquisa histórica escolhemos nos afastar das fontes orais (memorialista) e aprofundarmos nas fontes escritas documentais. O resultado foi uma gama de informações que ajudam a elucidar a ocupação (em alguns casos desapropriação de terras indígenas) e colonização do oeste Goiano, bem como, desmistificar “causos e estórias”.
Quando se fala sobre os grandes personagens históricos de Iporá, é comum e unânime se citar Israel de Amorim, Elias de Araújo Rocha, Osório Raimundo de Lima, dentre outros; porém, estes são lembrados por feitos “pessoais”, construções de estradas e pontes com “recursos próprios”, em prol da comunidade iporaense em meados do século XX.
Entretanto, ao realizarmos o árduo trabalho de um historiador, percebemos que esses “caudilhos” do século XX não foram os pioneiros e exclusivos a se lançarem em tais “benfeitorias” em prol do desenvolvimento da região. Ainda no século XIX, fazendeiros e comerciantes já praticavam tais empreitadas com “recursos próprios”. Vejamos alguns exemplos.
Em 1880, o fazendeiro Manoel Camillo de Freitas terminou a construção da estrada entre o Distrito do Rio Claro e Jurupensem. A mesma estrada havia sido planejada e iniciada em 1869 pelo Engenheiro da Província Pedro Dias Paes Lemes. Em 1882, o fazendeiro Manoel Camillo foi “resarcido” pelo Estado com o pagamento dos custos de sua iniciativa.
Em 1886, Manoel de Moraes Bueno e José Marques de Carvalho, fazendeiros das regiões do Campo Redondo (Distrito do Rio Claro) e Tapirapuam respectivamente, foram encarregados pelo Estado para “limpar a picada de Jurupensem ao Rio Claro”; esta empreitada tinha como objetivo ampliar e refazer o trajeto já existente “começando na Fazenda do Engenho e findando na fazenda Águas Claras”.
O fato é que o Estado (a Província de Goyaz) por vezes concedia à iniciativa privada a empreitada de construir e/ou reformar com “recursos próprios” picadas de estradas e pontes. Depois de concluídas as obras, o Estado enviava engenheiros e topógrafos para fiscalizarem, e aí sim, os empreiteiros eram pagos (ressarcidos).
Manoel Camillo de Freitas, Manoel de Moraes Bueno, Tenente Manoel Vieira de Resende e o Capitão Antônio Gomes Pinheiro foram sem dúvida, alguns dos maiores, mais atuantes e mais influentes personagens da região do oeste da Província de Goyaz na segunda metade do século XIX.
Em novembro de 1890, o governo do Estado de Goyaz fez a nomeação dos Membros da Comissão Censitária do Distrito do Rio Claro:
● Manoel de Moraes Bueno – Subdelegado em 1875 e em 1882, 1º Suplente de Subdelegado em 1890. José de Moraes Bueno, pai do fazendeiro, havia sido membro da 1ª Comissão Censitária do Distrito do Rio Claro, em 1872.
● Andrônico Francisco Regis – 1º Suplente de Subdelegado em 1886.
● Epiphanio de Freitas Silveira – Subdelegado em 1885.
● Pe. João Baptista Leite – Vigário da Paróquia e Presidente da Comissão Censitária de 1872 e de 1890.
O resultado do recenseamento foram 500 listas de famílias no Distrito do Rio Claro, somando 591 homens e 533 mulheres, totalizando 1.124 pessoas; desta soma não se contabilizou crianças abaixo de 16 anos.
No último quartel do século XIX, dentre os grandes e notáveis do oeste Goiano podemos citar:
● Capitão da Guarda Nacional Antônio Gomes Pinheiro – Fazenda Bebedouro
● Jeronymo Gomes Pereira – Fazenda Pilões
● Manoel Fernandes Pereira – Fazenda Retiro, propriedade que chegou a ter mais de 1000 reses.
● Sebastião de Freitas Silveira – Fazenda Pacú, propriedade registrada em Registro Paroquial em 1858 pelo Cap. Antônio Gomes Pinheiro.
● Hermenegildo Antônio de Freitas – Fazenda Morro Agudo, propriedade está registrada em 13/Abril/1858 por Antonio Joaquim de Arantes.
● Innocencio Martins de Alencastro – Fazenda São Domingos (hoje no município de Cachoeira de Goiás), em 03/Fev./1888 José Alves Ferreira informava que esta propriedade criava mais de 2.500 reses.
● Gertrudes Rodrigues de Moraes – Fazenda Mamoneiras, registrada na Paróquia em 1858.
● Ana Jovita de Jesus – Fazenda Salobinha.
● João Justino Duarte – Fazenda Matrincham, propriedade que foi realizado o Registro Paroquial em 1857, está fazenda veio a pertencer posteriormente respectivamente à Manoel Camillo de Freitas, Cândido Alves Pereira, José Paes de Toledo e finalmente à Odorico Caetano Telles.
● Capitão Braz Abrantes – Fazenda Funil.
● Joaquim Fernandes da Rocha e seu pai Lucas da Rocha, possuindo fazendas nas margens do Rio Claro e no atual município de Cachoeira de Goiás.
● Manoel Pereira de Resende e seu filho Zacarias Alves Pereira – fazendeiros da região do atual município de Cachoeira de Goiás.
● José Machado da Silva;
● José Machado Valladão;
● Sebastião Bernardes de Oliveira;
● Tenente da Guarda Nacional Manoel Vieira de Resende e seu filho Joaquim Vieira de Resende.
● Manoel José Peres – Fazenda Jacaré, propriedade que teve Registro Paroquial realizado em 04/Jan./1858, parte desta fazenda viria futuramente a pertencer à Israel de Amorim.
● José Joaquim dos Santos – Fazenda Campo Redondo; também conhecido como José Joaquim de Souza, parte desta propriedade veio a pertencer à Manoel de Moraes Bueno e a Joaquim Paes de Toledo.
● Manoel Pereira Valle – Fazenda do Pereirinha, está propriedade serviu como depósito auxiliar de gêneros alimentícios e rebanhos que depois eram enviados ao Depósito do Bahús (hoje, município de Coxim/MS), e que alimentaram as tropas brasileiras em operação contra as tropas paraguaias durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Nossa intenção não foi exaurir o tema e personagens, ao contrário, propusemos ao historiadores e demais pesquisadores, o estudo análise e produção historiográfica compromissada a expandir o conhecimento histórico do Distrito do Rio Claro durante o século XIX, a fim de, desvendar e elucidar o su(posto) silêncio historiográfico que a região recebeu por muitos e consagrados escritores e historiadores, e até de alguns geógrafos, memorialista, poetas, etc.