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É hora de relembrar os antigos fazendeiros de Amorinópolis (I)


Nesta parte relativa aos antigos moradores da região de Amorinópolis, destaca-se os nomes dos principais fazendeiros, considerando as diversas regiões tais como Jacuba, Santa Marta, Morro Alto, Lajeado, Balizinha, Furna do Gato, Cruzeiro, Caiapó etc. Vamos começar pelo Morro Alto e Santa Marta.

Para recordar as pessoas que moravam nas fazendas, é preciso entender, também, como a região se desenvolveu em termos de geografia. Campo Limpo, hoje Amorinópolis, localiza-se entre as bacias de dois córregos principais: a Santa Marta, que corre para o rio Claro, e a Jacuba, da bacia do rio Caiapó. Naturalmente, a maioria dos fazendeiros foi se estabelecendo ao longo dessas drenagens e de seus afluentes. Também ajudavam a concentrá-los as estradas que existiam na época, como a estrada para Rio Verde, a estrada que começava a nascer em direção ao Caiapó e a estrada para Boa Vista do Pé de Porco. Ou, ainda, as terras mais férteis, como as do vale da Jacuba, que estava começando a ser desbravada na década de cinquenta.

 

As pessoas das fazendas eram espetaculares e sempre hospitaleiras. Tinha os fazendeiros do Morro Alto, da Jacuba, da Jacubinha, do Atolador, da Santa Marta, da Baliza, da Balizinha, da Furna do Gato, do Caiapó, do Chapadão, do Lajeado, do Espraiado e mais um punhado de lugares. Em algumas dessas regiões as pessoas tinham características comuns, como “os caiapozenses”, que eram normalmente meio exaltadas, esparoladas. Até hoje, quando se tem um boi bravo na fazenda, a gente o chama de “caiapozense”. E tinha, também, “a turma da Jacuba”, humildes e corteses, de fala mansa, quase todos mineiros vindos da região do Alto Paranaíba.

Os fazendeiros pras bandas do Morro Alto

O ribeirão Jacuba nasce pros lados do Morro Alto, uma das regiões mais férteis de todo o município de Amorinópolis, embora em algumas partes seja de topografia bastante acidentada. Lembro-me de várias pessoas dessa região. Uma delas era o seu Saturnino Ramos Sobrinho, esposo de dona Elsa e pai do Natal, que hoje é médico em Iporá. Seu Saturnino era uma pessoa finíssima e muito trabalhadora, além de me tratar com muita atenção e alegria. Quando o encontrava em Campo Limpo, batíamos longos papos. Muitas vezes eu ia para a fazenda deles passar uns dias, já que era amigo de seu filho. Uma época ele estava comandando um carro de bois, o ajudante descuidou e o atingiu em um olho com a ponta da vara de ferrão, cegando-o. Mas logo que o machucado melhorou, continuou trabalhando da mesma maneira, levantando de madrugada e só parando à noite, até que um ataque do coração o parou de vez, no fim da década de sessenta. Meu pai não se esquece de que foi dele que comprou uma desnatadeira, assim que adquiriu a fazenda no Campo Redondo. Era um equipamento não muito fácil de ser encontrado, naquela época, mas de fundamental importância nas fazendas. Como não havia energia elétrica, a solução para aproveitar o leite era desnatá-lo e vender o creme para o pessoal do ramo, que o revendia para as fábricas de manteiga de leite. Um deles, naquela época, era o Miguel da Lavoura.

Lá na fazenda do seu Saturnino morava um agregado muito trabalhador, de nome Gercino, que depois se mudou para a cidade. Meu pai sempre comprava sacas de um feijão Jalo dele, para passar o ano. Era costume da época comprar feijão para passar o ano, senão ficava sem, já que não havia para vender em armazéns, como há hoje. O Gercino morou depois em Amorinópolis, na casa da esquina da praça com a avenida principal, onde havia morado o Zé Vendeiro. Tocou açougue muito tempo neste local.

Outro morador famoso daquelas bandas era o Irineu Parreira, que usava sempre umas botas de cano longo e conversava alto. Tinha fama de bravo, de farrista e gostava de dar tiros para cima quando enchia a cara na bebida. A fazenda que foi dele, hoje é da viúva do finado Magui, irmão do seu Olímpio Rezende. Morava por ali, também, o meu grande amigo Zé Gambá, marido da Maria e pai do Milton, da Telma, da Selma e da Terezinha. A Maria já foi estar com Deus primeiro que nós. Vez por outra encontro-me com o Zé e é sempre uma alegria revê-lo.

Na beira da Jacuba, ali para os lados do cemitério, morava uma pessoa fabulosa, de nome José Joaquim Xavier, mais conhecido como Zé Chico, marido da dona Maria e pai da Dalva do Mobe, do Mauro Chico, do falecido João Chico, do Divino, do Pedro que foi prefeito, do Tião, da Fátima, da Lázara e de mais alguns cujos nomes esqueci. Este foi um dos meus bons amigos, desde quando eu era criança. Em minhas férias, quando eu estudava fora, se seu Zé não aparecesse na cidade, eu ia vê-lo na fazenda. Aliás, em julho era sagrado levantar de madrugada e ir a pé com meu pai e tio Rui tomar garapa na fazenda do seu Zé, que moía cana para fazer rapadura e açúcar mascavo. Quando o melado estava quase no ponto de rapadura, seu Zé colocava umas conchadas daquele líquido grosso numa vasilha de água, para virar puxa. Que delícia! Se a gente começasse a batê-la com as mãos, puxando seguidamente, virava a famosa moça-de-engenho ou moça-branca, outra delícia. Era só me ver, que o seu Zé Chico ia logo gritando de longe: ô Paula! Era assim que ele me chamava. Uma vez, já nos anos oitenta ou noventa, seu Zé adoeceu com um tumor na cabeça e foi hospitalizado em Goiânia. Fui visitá-lo e ele não me reconheceu. Fiquei numa tristeza danada. Uma semana depois, quando ele já havia operado, voltei lá. Fui entrando no quarto e ele logo me reconheceu, gritando: ô Paula! Aí fiquei satisfeito. Pouco tempo depois ele veio a falecer. Meu grande amigo, seu Zé Chico: que Deus o tenha ao seu lado!

Ali perto da fazenda do seu Zé tinha também a fazenda de um filho dele, de nome Mauro Chico, marido da Maria do Mauro e pai da Lúcia, da Maria Helena, da Cristina e do Júnior. O Mauro é muito meu amigo até hoje e foi ele quem me ajudou a recordar de boa parte dos antigos moradores da Jacuba, num bate papo apressado um dia em que ele estava me dando uma mão na fazenda, para apartar um gado. Se alguma coisa que estou escrevendo não for bem assim, a culpa é dele, lógico… Mais para frente ficava a fazenda do Adelemobes, mais conhecido como Mobe, pai do Paulo. Saindo para Campo Limpo pela estrada que passava junto do cemitério, tinha a fazendinha do Diógenes, um típico mineiro, alto, de fala mansa, que usava umas calças com a barra quase no meio da canela. O pessoal costumava dizer que ele usava só um pé de botina de cada vez, para economizar. Brincadeira do povo, é claro. Não faz muito tempo ainda o vi lá em Amorinópolis, calçado nas duas botinas.

Depois da terra do Diógenes, na subida para o cemitério ficava a fazendinha do seu Dolores, irmão do Diógenes, marido da dona Floriana e pai da Maria do Zequinha, da Elza, da Vilma, do Zé da dona Floriana, do Valdir e do Vilmar. Na casa deles, em Campo Limpo, ali no mesmo lugar onde os filhos moram hoje, havia dezenas e dezenas de gaiolas de pássaros, principalmente canários, curiós, bicudos e pintassilgos. Pela manhã era uma festa na porta da casa, quando colocavam as gaiolas para fora para tomar sol. Mais para o lado tinha a fazenda do seu Zé Neném, também mineiro da gema e muito amigo de minha família. Depois se mudou mais para perto da estrada de Rio Verde e virou grande produtor de leite. Morreu há pouco tempo.
Marcaram época na Jacuba, também, o seu Geraldo José Ferreira, conhecido como Geraldo Toquinho, que depois virou morador do Cruzeiro; o seu Sebastião da Silva Borges, vulgo Sebastião Pio, carequinha e gente muito fina, que depois comprou uma fazenda na Santa Marta, lá embaixo. Muito conhecido também era o seu Hemenegildo, que tinha terra ao lado da fazenda do seu Zé Chico, na beira do córrego Marinheiro. Ele era casado com dona Etelvina, que por sua vez era irmã da dona Filomena, avó do Valdirinho, aquele que trabalhou na farmácia do meu pai. Estas duas senhoras a gente chamava de as mineiras. Elas tinham casas na cidade também, lá no alto, na saída para Rio Verde, perto de onde é o hospital de Amorinópolis hoje. Vendiam ovos, galinha, verduras e legumes, banana ourinho. Eram muito trabalhadeiras.

Também tinha fazenda na Jacuba o seu Antônio Rita, pai do Gaspar, da Irene, da Lina, do Zé Galo, do Tiãozinho e do Lazinho. Morava praquelas bandas, ainda, outro senhor de nome Eugênio, pai do Joaquim Eugênio e avô do Lídio.
O Mauro Chico me contou que seu Eugênio teve um fim muito triste, no início dos anos cinquenta. Foi mordido por um cachorro doido e contraiu a raiva. Teve que ser amarrado em um tronco de árvore pelos pés e pelas mãos, no maior sofrimento, até morrer. Dizem que foi a coisa mais triste do mundo.

Na região da Jacuba morava ainda um punhado de gente muito querida e popular, na metade do século passado. Tinha, por exemplo, o seu Joaquim Alegre, que possuía um alambique da famosa pinga Saci (Campo Limpo tinha fábrica de pinga, sim senhor). Era um caboclo moreno escuro, de fala alta e esparolada, sempre de bom humor. Foi seu Joaquim que buscou um gado de meu pai lá de Bom Jardim para Campo Limpo, em cinquenta e seis. Havia ainda o Joaquim Borges, benzedor contra cobra, que vendeu a terra para o Diógenes; o Agnelo, que era vizinho do seu Zé Chico; o Nicanor Pimenta, sogro do Nego do Evaristo; e o Ibraim, que vendeu a terra para o Antônio Terêncio, sogro do Geraldo Toquinho, que por sua vez vendeu para o Valdo Rezende. Tinha também o Dionísio Mariano, que foi vereador na época em que o João Maranhão foi prefeito. O Dionísio também vendeu a fazenda para o Valdo Rezende.

A família Rezende representa uma história à parte para a região de Amorinópolis. Chegaram no final da década de cinquenta, oriundos de Paraúna, com seu Olímpio se instalando no vale da Jacuba, no mesmo lugar onde ainda hoje é a sede de sua fazenda. Vieram junto a sua esposa, dona Nenén e uma filha, de nome Lúcia, ainda bem novinha. Só mais tarde é que nasceu a Lenira. Seu Ubaldo, da mesma forma, chegou para assumir a fazenda onde é sua sede até hoje, morando uns tempos na casa de seu Olímpio, até construir a sua. Também já chegou com sua esposa, dona Olívia, irmã de dona Nenén, e a filha Eli, que era recém-nascida. Logo depois vieram o Valdo e o Magui, este último de nome verdadeiro Magdal, que ainda eram solteiros. Instalaram-se no vale da Jacuba, próximo a Amorinópolis, e foram comprando mais terras, ampliando suas posses, principalmente seu Olímpio, que deve ser o maior fazendeiro da região, mas ultimamente tem vendido muita terra. Passada a fase de produção de cereais, que sucedia à derrubada das matas nas ricas terras da Jacuba, os pequenos fazendeiros se viam forçados a vender suas propriedades e ir procurar outras matas para derrubar e produzir mais cereais, para ter do que viver. Aí seu Olímpio comprava essas terras e ia expandindo suas pastagens para criação de gado, seguindo uma máxima do pai dele: segura no rabo do boi que ele vai te levar sempre para frente. Dos quatro irmãos que vieram para Amorinópolis, o Magui já faleceu. Dona Olívia, esposa do seu Ubaldo, e a Zinha, esposa do Valdo, também. Todos eles sempre foram fregueses da Farmácia Popular e ainda mantêm boas relações de amizade com meus pais.

Os fazendeiros do Vale da Santa Marta

O vale da Santa Marta é extenso. Começa lá pros lados da serra do Neném Carneiro, no caminho para Rio Verde, com os fazendeiros se distribuindo ao longo da estrada que ia para aquela cidade. Depois vem descambando pro rumo de Amorinópolis, com as fazendas ali próximas da cidade, acessadas pela estrada antiga para Ivolândia, pela estrada do grupo do Joaquim Vó e pela outra estrada que sai ali da rua onde era o Hotel Junqueira, indo para o lado da Balizinha. E ainda tem a parte da Santa Marta lá pras bandas do Cruzeiro, já bem mais abaixo.

Na estrada para Rio Verde, lá pros lados da cabeceira da Santa Marta, no pé da serra, morava o seu Neném Carneiro, de nome verdadeiro Nivaldo Carneiro. Era por lá que os caminhoneiros se ajeitavam para comer alguma coisa quando a serra estava ruim para subir e o caminhão refugava. Seu Neném tinha umas filhas bonitas, sendo que uma delas se casou com o Chico, irmão do Leônidas. Descendo mais para o lado do Campo Limpo vinha a fazenda do seu Amador Carneiro, um fazendeiro que estava sempre alegre, brincando, e que possuía muita terra. Era sogro do seu Adalardo, que recebeu uma parte dessas terras de herança, bem ali onde foi do Geraldo Martins e depois do seu Alcides. Para você ver como é a vida: Dona Raimunda, a esposa do seu Amador, um dos homens mais ricos dos anos cinquenta em Campo Limpo, ainda vivia até há pouco tempo atrás, mas morava no abrigo dos velhos, em Iporá.

Ao lado da Fazenda do seu Amador havia a fazenda do seu Tatão Carneiro, pai do Luizinho da dona Bilota. Seu Tatão morreu novo-novo, de enfarte. Era muito amigo de seu Vergílio Caldas, um farmacêutico também querido em Campo Limpo, tendo sido candidato a prefeito. Seu Vergílio era marido de dona Maria, que mora hoje em Goiânia, e pai do Walter, do Izaíco – meu grande amigo de infância e que era o diabo na sala de aula da dona Lélia –, do Vilebaldo (fiquei sabendo, no dia da festa do Ernades, que já faleceu também) e de mais um punhado de filhos. Quando o seu Vergílio ficou sabendo da morte do Tatão, teve um choque e o coração não resistiu, morrendo em seguida, também.

Naquela região tinha, ainda, o seu Oscar Carneiro, na fazenda que depois foi comprada pelo Antônio da Angélica. O danado do Antônio, que quando foi se casar era meio desacreditado, conseguiu ser dono da fazenda que era do sogro, adquirindo-a depois que o velho se desfez dela. Seu Oscar tinha um punhado de filhos, dentre eles o Wilmar e a Cleusa, meus contemporâneos de grupo escolar. Naquela região morava, também, o seu Valdomiro Carneiro, esposo de dona Tita e pais da Iraides e da Irani. Ainda estão firmes e fortes por lá. A Iraídes casou-se com o Natal do seu Saturnino Ramos e tiveram dois filhos de nomes Marcelo e Bruno. O Bruno casou-se com uma filha da Fátima do seu Zé Chico, de nome Carolina, e já deram um netinho para a Iraídes e o Natal. A Irani casou-se com o Corival e tem um filho de nome Gustavo. Vizinha do seu Valdomiro era a fazenda do seu Miguel Leão, ou Miguelim Leão, como era mais conhecido, filho do seu Rafael Leão, marido da dona Rosa e pai da Delma. Tanto seu Miguel como a dona Rosa já nos deixaram e devem estar sentados à direita do Deus pai. A Delma e o esposo é quem tocam a fazenda hoje. Tiveram duas filhas de nomes Natália e Luciana.

Falar em seu Miguel Leão faz lembrar o pai dele, seu Seu Rafael Leão, que era um velho alegre, cheio de sabedoria. Depois que resolveu mudar-se para a cidade, comprou uma parte do terreno do Hotel Junqueira que servia de estacionamento para os caminhões, na esquina com a avenida principal, e fez uma casa, onde morou até o fim da vida. Ele tinha algumas deficiências físicas: mancava forte e alguma coisa o prejudicava na altura do pescoço que o forçava a ficar olhando sempre para cima. Mas era de um humor e de uma educação para com as outras pessoas, de se admirar. Vendia verduras e leite na cidade. Minha mãe conta que as pessoas às vezes ficavam com as vasilhas de leite dele para devolver depois e, muitas vezes, se esqueciam. Até que um dia uma senhora falou que ia ficar com a vasilha para lavar e devolver noutro dia, ao que ele coçou a cabeça e retrucou: “minha filha, vasilha suja na casa da gente é melhor que limpa na casa dos outros”, e levou de volta a vasilha para lavar em casa.

Ainda lá pros lados dos Carneiro tinha a fazenda do Jair de Paula, onde hoje acho que ainda é do André Bala. O Jair era filho do Antônio de Paula e um rapaz meio namorador. Casou-se com uma neta do seu Josias, uma criança ainda. Do outro lado da estrada era a fazenda do seu Antônio de Paula, de nome verdadeiro Antônio Xisto Vieira, figura toda vida muito alegre e simpática. Com noventa anos, lembrava de tudo dos tempos antigos. A fazenda do seu Antônio era ali onde foi do seu Jacinto, pai do Mano. Ele tinha duas filhas do primeiro casamento que eram muito bonitas naquela época: a Nalva e a Bernardina, esta mais conhecida como Duquinha. Foram minhas colegas de colégio em Jataí no começo da década de sessenta. Tem mais de trinta anos que não as vejo. Claro que tenho saudades. Podiam mandar o endereço, para eu voltar a fazer contato, né Duquinha?  Seu Antonio de Paula depois se casou com a Carmelita e tiveram vários filhos, dentre eles o Jairo, o Júnior e a Vângela. Depois que vendeu as terras lá em cima na Santa Marta, comprou uma fazenda na beira da estrada que ia para Ivolândia. Seu Antônio já nos deixou há alguns anos atrás. Mais para baixo morava o Miramom, que viveu em Amorinópolis até pouco tempo atrás. Perto dele tinha, ou tem ainda, o Nego Batista, que comprou a terra de um sujeito que era muito bem de vida, de nome João Saturnino, sogro do Realino. Ali por perto morava, também, o Mané Preto.

Nas proximidades da cidade moravam o Divino Mineiro, o Pedro Crispim, o João Laurindo e o Otávio Crispim, primo do seu Pedro. Além de serem figuras fabulosas, eram pessoas com quem a gente tinha mais contato, por morarem perto da cidade. Ou estavam sempre passando pela farmácia de meu pai, ou a gente estava sempre indo por lá nos fins de semana, porque era pertinho. E tinha que ser pertinho para a gente poder ir passear, porque ninguém possuía carro naquela época e bicicleta, que também não era muito comum, só levava um ou dois, no máximo.

Sobre o Divino Mineiro já falei. Havia morado, antes, em São Luís dos Montes Belos. Gabava-se de ter participado do levante para a emancipação daquele distrito, quando queria se desmembrar de Firminópolis, tendo pegado em armas para garantir a independência. Era muito amigo de meu pai, passando o dia todo sentado ou deitado no banco da farmácia. Mais tarde comprou um jipe Willys verde e ficou muito importante.

O seu Pedro Crispim e dona Ilídia formavam um casal fabuloso. Ela era mais atuante, mais falante, conhecia todas as pessoas e era amiga de todos. Não ia à cidade para não dar uma passadinha para ver meus pais. Também não havia época de milho verde em que a gente não fosse para a fazenda dela para fazer pamonha e pescar na Santa Marta. Depois que este livro foi publicado, recebi um email do Antônio Mendes com os seguintes dizeres, que aproveito para atualizar o que eu havia escrito:  ” Voltando à história dos nossos antepassados, minha mãe morreu aos 79 anos. Meu pai morreu aos 92 anos, muito lúcido. Meus irmãos são: Adevir Mendes de Oliveira, o mais velho, hoje aposentado e mora em Goiânia; Joana Mendes de Barros, viúva de Miguel Pires de Barros, mora em Rio Verde; Maria Mendes de Oliveira,  falecida logo depois da morte da mamãe; Jerônima Mendes de Matos, viúva; Avenil Mendes de Oliveira, enfermeiro, mora em Goiânia; Abel Mendes de Oliveira, capitão da Policia Mlitar, mora em Goiânia; Adiná Mendes da Silva, divorciada, mora em Goiânia; Alaídes Mendes de Oliveira,  farmacêutico, mora em Anápolis; Sônia Mendes de Meneses, Teóloga, mora em Goiânia. Eis aí meus irmãos. Eu estou entre Avenil e o Abel, na escala cronológica. Os três últimos são Amorinopolinos de nascimento. Os outros são Palmeirenses, mas Amorinopolinos de coração.”

Uma vez, lá para os idos de cinquenta e sete ou cinquenta e oito, fomos num desses passeios de começo de ano à casa de dona Ilídia. Éramos umas trinta pessoas ou mais. Estavam o tio Rui com a tia Célia e os filhos, a Dôra com sua prole, tia Zenaide, que ainda era solteira ou estava com os filhos pequenos, minha mãe com os três filhos e mais um punhado de gente. Enquanto apanhavam o milho para a famosa pamonhada, fomos tomar banho em um poço na Santa Marta, como a Dôra gostava. De repente alguém olhou para cima e viu aparecerem no céu dois riscos brancos, paralelos, que a gente nunca tinha visto. A mulherada saiu da água correndo, algumas chorando, tia Zenaide começou a rezar e a gritar, imaginando que fosse o fim dos tempos. A meninada, sem saber o quê nem o porquê daquele medo todo, chorava e gritava junto. Foi o maior desespero, até que o tio Rui, que havia ido nadar num poço mais embaixo, ouvindo a gritaria veio correndo saber o que tinha havido. Mostraram os riscos no céu para ele, que ficou também com um pouco de dúvida. Depois chegaram outras pessoas e a dúvida foi mais ou menos sanada: só podia ser o risco de fumaça deixado por um tal de ‘Ajato’, que a gente só conhecia por ter ouvido falar através do rádio. Campo Limpo nunca havia sido rota desses aviões. De certa forma, não deixava de ser o fim dos tempos. Era coisa do outro mundo mesmo. Tia Zenaide estava coberta de razão.

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