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Infestação de moscas em Iporá pode ser devido lixo, diz biólogo

Douglas Henrique Bottura Maccagnan, especialista em insetos

A população iporaense está reclamando muito do número de moscas que aumentou muito, trazendo transtornos. Isso pode ser devido precariedade da limpeza pública, que faz haver melhores condições de procriação do inseto, aumentando sua população.

A seguir texto do biólogo Douglas Henrique Bottura Maccagnan, da UEG de Iporá, que a nosso pedido e para que possamos entender a situação, abordou o assunto.

Infestação de moscas urbanas: um problema de saúde pública

As moscas são insetos da ordem Diptera, nome que faz referência à existência de apenas um par de asas, enquanto o comum para os insetos seria a presença de dois pares. Além das moscas, nessa mesma ordem também estão agrupados os pernilongos, as mutucas, os borrachudos, entre outros.

Existem diversas espécies de moscas associadas ao ambiente urbano e é normal que elas ocorram, mas em pouca quantidade. Uma aqui… outra mais ali. Mas quando temos grande quantidade desses insetos visitando nossa casa é sinal que algo está errado e o problema requer atenção.

Para compreender o problema, precisamos saber uma pouco do ciclo de vida das moscas. A mosca como conhecemos, com asas, é o inseto adulto. Em sua fase juvenil ela é uma larva do tipo coró. De maneira geral, após ser fecundada a fêmea procura um local para depositar seus ovos, sendo este matéria orgânica em decomposição que pode ser encontrada no lixo doméstico ou industrial, carniça e carcaças de animais descartados em locais impróprios, ração animal, fezes de animais (cachorros, bovinos, aves…) e até fezes humanas. É se alimentando dessa matéria orgânica que as larvas irão se desenvolver. A fase larval pode durar de cerca de uma semana até um mês, isso dependendo principalmente da temperatura e da umidade. Quanto maior a temperatura, mais rápido a larva se torna adulta.

O tempo de vida de uma mosca adulta é cerca de 30 dias e uma única fêmea pode depositar mais de 500 ovos durante esse período!!! Elas são ótimas voadoras e podem atingir velocidade de 8 km/h e se distanciar vários quilómetros de onde nasceu. Nessa fase ela costuma comer, além do alimento descrito para a larva (fezes, carniças, lixo orgânico…), tudo que tiver açúcar ou aminoácido, como, por exemplos, resíduos orgânicos sobre uma pia da cozinha que não foi bem lavada.

O fato de agora, ainda no inverno, haver grande infestação de moscas no município de Iporá é um sinal de alerta. O problema deve piorar nos próximos meses, quando as temperaturas serão maiores e as moscas se tornarão adultas mais rápido, reproduzindo e aumentando exponencialmente sua população. No inverno, a mosca pode demorar cerca de trinta dias para completar seu ciclo de vida. Com o aumento de temperatura na primavera/verão o desenvolvimento de ovo a adulto pode se aproximar dos sete dias. O aumento de umidade também é outro fator que tende a favorecer o desenvolvimento desses insetos.
Moscas podem trazer problemas de saúde

As moscas têm grande importância em saúde pública como vetores mecânicos de doença. Uma única mosca pode carregar em seu corpo centenas de bactérias, fungos e vírus causadores de doenças. Elas adquirem esses microrganismos ao pousar no lixo, nas fezes, esgotos, fossas ou animal morto. Ou seja, elas se contaminam ao pousarem em superfícies contendo os microrganismos e, posteriormente, ao pousarem nos alimentos ou em nós mesmos, disseminam doenças. São exemplos de doenças transmitidas por moscas algumas infecções alimentares, como diarreias e outros distúrbios gastrointestinais, conjuntivite, febre tifoide, turbeculose e algumas verminoses. Sendo assim, é importante evitar consumir alimento que tenham tido contato com moscas.

Muitas moscas, a culpa é de quem?

Infestação de mosca é problema de saúde pública e cabe aos setores responsáveis combater sua proliferação. A melhor forma de reduzir a presença de moscas é evitar seus locais de criação e alimentação. A limpeza da cidade, com a coleta regular de lixo e seu destino adequado para aterros sanitários com o devido tratamento dos resíduos é algo que reduziria a quantidade de mosca. Também cabe ao setor público fiscalizar possíveis pontos industriais e comerciais que possam estar servindo de criatório, em especial àqueles com produção de alimentos, e fazer ser cumprida a legislação sanitária no que diz respeito ao controle de pragas e vetores.

A população também pode fazer sua parte. É importante descartar de forma correta o lixo doméstico. Feche muito bem o saco de lixo, pois em qualquer buraco que haja, mesmo que muito pequeno, a mosca poderá entrar para depositar seus ovos. Evite expor os sacos de lixo a locais em que animais possam rasgar. Colocar o lixo para fora de casa no horário próximo ao da coleta e mantê-lo em uma lixeira suspensa é uma boa dica. Outra dica é lavar sacos plásticos ou outros recipientes com resíduos de carne ou sangue antes de jogar no lixo, pois esses resíduos atraem e servem de alimento para as moscas.
Com o setor público honrando suas obrigações e a população colaborando no descarte de lixo, o problema de infestação das moscas poderá ser reduzido.

Autor:
Douglas Henrique Bottura Maccagnan é formado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Doutor em Entomologia (estudo de insetos) pela USP de Ribeirão Preto. Docente da UEG de Iporá desde 2010 sendo responsável pelas disciplinas de Zoologia.

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